quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Amizade


A amizade é como a semente da qual brotam todas as relações, seja entre pessoas seja entre nações. Se bem cuidada, a semente da amizade germina e se desenvolve em uma grande árvore, forte, sadia, e inabalável, cujas raízes espalham-se e aprofundam-se, dando belas flores e frutos.

No mundo contemporâneo cada vez mais conturbado e desumanizado, ter alguém ao lado em quem se pode confiar e confidenciar segredos e sentimentos é, sem dúvida, um grande bem, fundamental para as pessoas aliviarem o peso que, muitas vezes, carregam sozinhas, gerando, com isso, até mesmo problemas de saúde.

Porém, em uma sociedade competitiva, desenvolver um forte laço de amizade tem se tornado cada vez mais difícil. Muitas vezes, as pessoas confiam, desconfiando. Ou, quando confiam, um pequeno deslize de um já é suficiente para se fecharem em seu próprio mundo, tornando-se frias e incapazes de sentir-se feliz pelo sucesso do outro, ou de trocar um abraço espontâneo e não mecânico, enfraquecendo cada vez mais a relação. Outras vezes ainda, com o receio de se decepcionar, muitos optam por não ter amigos. Assim, as amizades de longa data vão se tornando cada vez mais raras.

Desde os tempos antigos, ter bons amigos tem sido fundamental para o avanço da humanidade. Isto porque o compartilhar de idéias amplia a visão das pessoas com relação ao mundo e ajuda a superar grandes dificuldades com o forte companheirismo que a amizade proporciona.

Hoje em dia, a atual sociedade globalizada, embora tenha multiplicado exponencialmente as facilidades nas comunicações e nos transportes, torna os relacionamentos mais rápidos e esporádicos, até mesmo frios, nos quais, em detrimento das experiências compartilhadas, valoriza-se mais a individualização das experiências, característica esta talvez o epítome de nossa sociedade virtual.

Fortes laços de amizade não são criados da noite para o dia. É preciso a convivência, a confiança recíproca, a troca constante de idéias para derrubar barreiras, diferenças e desenvolver a capacidade de superar mágoas. É um esforço mais de compreensão e aceitação do diferente do que de convivência física. E nem sempre os amigos são aqueles que pensam igual. Em muitos casos, as amizades de longa data são exatamente entre pessoas extremamente diferentes.

Segundo pesquisas médicas, a amizade é fundamental para a saúde mental e física. Ela pode aumentar a esperança e, com isso, afetar o desempenho do sistema imunológico. Ao contrário, a solidão traz sentimentos que pode gerar doenças como a depressão.

Por isso, ter alguém ao lado para encorajar nos momentos de tristeza, para alertar com rigor quando necessário, ou então apenas para abraçar, é a maior riqueza que uma pessoa pode desejar. Afinal, todos precisam de um ombro amigo para desabafar suas angústias e também compartilhar as alegrias. E aqui vale ressaltar que nem sempre esse amigo é aquele que apenas está ao lado fisicamente, mas que está sempre disposto a ouvir. Compreender os outros, naturalmente, pode fazer as pessoas superar a desconfiança e o ódio. Esse, talvez, é o valor e o sentido de uma amizade pura e sincera.

O objetivo da prática budista é atingir a felicidade absoluta, ou a iluminação.

Uma pessoa que ajuda outra a concretizar esse objetivo, ensinando-lhe sobre a prática ou encorajando-a, é chamada de “bom amigo” ou “boa influência” (zentishiki, em japonês). Por outro lado, aquela que impede e desencoraja a outra em sua busca da iluminação é chamada de “mau amigo”, ou “má influência” (akutishiki).

“Portanto, o melhor modo de atingir o estado de Buda é encontrar um zentishiki, ou um bom amigo. Até onde a sabedoria de uma pessoa pode levá-la? Se essa pessoa possui sabedoria suficiente pelo menos para distinguir o quente do frio deve procurar um bom amigo.”

Fundamentalmente, é a própria pessoa quem determina se alguém é um bom ou um mau amigo. Tudo dependerá da forma como ela o enxerga, se irá deixar-se abater e influenciar-se negativamente por ele ou se fará dele um trampolim para o auto-aprimoramento .

No processo da revolução humana, além dos “bons amigos” é imprescindível a existência dos “maus amigos”, pois mediante as ações ou o comportamento destes, uma pessoa pode polir a própria vida, evitando cometer os mesmos maus atos e enxergando as próprias falhas.

O ideal seria as pessoas considerarem tudo o que lhes ocorre, os fatos bons e os maus, como um motivo para o auto-aperfeiçoamento e, o mais importante, procurar ser um “bom amigo” para todos os que as rodeiam.

Terceira Civilização 428

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Sonhos e Premonições


Sonhar com algo que ainda vai ocorrer; prever fatos; ver espíritos; passar por um local no qual nunca esteve e ter a sensação de que já o conhece. Diversas pessoas relatam ter vivido alguma dessas experiências. Por isso, muitas perguntam: “O que são sonhos?”, “Qual a visão budista sobre premonições?”

Esse tema, de fato, é bastante complexo. Apesar de a Psicologia e a Ciência desenvolverem estudos sobre essas questões, muitas pessoas buscam compreendê-las com base na religião que praticam.

De fato, existem pessoas que têm sensitividade ou percepção aguçada. Algumas visualizam acontecimentos rapidamente; enquanto outras, mesmo que ocorram na frente delas, não os percebem. É como o ato de enxergar — há quem enxergue bem, mais ou menos ou quase nada.

Além disso, não se pode desconsiderar o vínculo afetivo entre as pessoas. Mesmo distantes, esses indivíduos estabelecem contato pelo inconsciente. Isso não tem nada de sobrenatural, é algo comum. É possível uma pessoa “prever” algum acontecimento na vida de outra não por ser vidente, mas justamente devido a esse vínculo afetivo. Muitas vezes, isso ocorre no sonho por ser o momento em que a mente descansa e, então, abre espaço para manifestar o que está em seu inconsciente.

Quando uma pessoa se encontra em baixos estados de vida, ou dominada pela escuridão fundamental, não consegue ter um único momento de tranqüilidade; mesmo durante o sono, parece não ter sossego.
“Dormir é uma atividade durante a qual fundimos nossa vida com o Universo e nos reabastecemos com uma vasta energia vital. Eis por que é importante estar em harmonia com o ritmo da vida e do Universo”.

Nós, muitas vezes, consideramos sonhos e premonições como manifestações incomuns, pois compreendemos os acontecimentos só com base no consciente. Porém, temos o inconsciente, que age totalmente na consciência, mas não percebemos a manifestação dele tão claramente. Quando conseguimos compreender o inconsciente, de fato, percebemos muitas situações que estão além do que enxergamos apenas no momento presente.

Esse é, justamente, o objetivo da prática budista. Ao recitarmos Nam-myoho-rengue-kyo, purificamos os seis órgãos sensoriais: olhos, ouvidos, nariz, língua, pele e mente. Assim, podemos ver, ouvir, sentir todos os fenômenos existenciais com base na sabedoria do estado de Buda. Essa sabedoria não é algo sobrenatural, mas um nível de consciência que nos possibilita compreender essencialmente cada fato da vida.

De nada adianta desenvolver uma percepção aguçada, prever acontecimentos se a pessoa não puder fazer nada para mudar o futuro. Isso, provavelmente, provocará sofrimento ou sentimento de impotência.

Na perspectiva budista, ao falar de premonições, pode-se traçar um paralelo com a lei de causa e efeito. Para qualquer acontecimento, há uma causa que gera um efeito. Se tivermos consciência das causas que realizamos em cada momento, certamente poderemos “prever” o futuro, conforme esta famosa frase do Sutra Contemplação da Mente-Solo citada por Nitiren Daishonin em “Abertura dos olhos”: “Se deseja saber que causas foram feitas no passado, observe os resultados que se manifestam no presente. E se deseja saber que resultados serão manifestados no futuro, observe as causas que estão sendo feitas no presente”.

Na “Tese sobre o estabelecimento do ensino correto para a paz da nação”, Daishonin tentou alertar as autoridades da época para os desastres e as calamidades que a nação sofreria por contrariarem o ensino correto. Exatamente tudo o que o Buda escreveu na Tese veio a ocorrer na época.
Seriam premonições ou a compreensão profunda da lei de causa e efeito? Acredito que seja a segunda opção.

O sobrenatural está completamente fora dos ensinamentos budistas. Aprendemos no budismo o conceito de “místico”, que significa algo além da compreensão, mas não que seja sobrenatural.

A mente humana é certamente misteriosa; é capaz de criar e projetar qualquer evento. Por isso, é essencial viver com base na prática budista para “tornar-se mestre da própria mente, em vez de permitir que ela o domine”, conforme escreveu Nitiren Daishonin em “Carta a Guijo-bo”. Se agirmos dessa forma, compreenderemos que temos nas mãos o poder para transformar o veneno em remédio, e não nos deixaremos levar por pressentimentos negativos ou pensamentos pessimistas.

Fonte de Pesquisa: TC 474 / 475

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Auto Estima


Você gosta de si mesmo? Qual valor lhe atribui? Está feliz com a maneira como vive? As respostas a essas perguntas são avaliações globais que constituem o que é chamado de auto-estima, ou seja, a opinião que apresenta ou o sentimento que nutre em relação a si próprio.

Auto-estima é algo que deve ser cultivado em todas as fases da vida.

É na infância que a auto-estima começa a se formar.
Nesse sentido, a maneira como a criança é tratada pelas pessoas ao redor, principalmente pelos pais, constitui fator determinante para que se torne um ser humano pessimista ou otimista.

Padrões sociais e culturais também interferem na formação da auto-estima.

A auto-estima pode ser tanto positiva como negativa. Isso depende muito da imagem que a pessoa tem de si — boa ou ruim. Mas não é aquela imagem que se vê no espelho, e sim a “imagem interior”.

Geralmente, as pessoas com auto-estima positiva ou elevada apresentam estas características:

> amam e valorizam a si mesmas; aceitam-se como são, mas sempre procuram melhorar; reconhecem suas qualidades, suas realizações, sem perfeccionismo; são otimistas; são tolerantes consigo e com os outros; acreditam no próprio potencial, mas isso não significa que sejam antipáticas e arrogantes.
Essas pessoas, geralmente, assumem as responsabilidades por seus atos; conseguem expor suas idéias sem agredir, com opiniões claras e objetivas; não se preocupam com o que os outros pensam sobre elas, mas sabem ouvir o que precisam aprimorar em si.

Já as pessoas com baixa auto-estima, ou auto-estima negativa, manifestam constantemente:

> sentimentos de inadequação, insegurança, dúvidas, incertezas em relação à própria capacidade; não se permitem errar, sempre necessitam de aprovação e reconhecimento dos demais, entre outras características.
Uma pessoa assim culpa todos pelos seus fracassos; sente-se confrontada em conversas, procurando sempre se sobressair em qualquer discussão; demonstra excessiva preocupação com a opinião alheia, não conseguindo, muitas vezes, ser autêntica. Em alguns casos, na tentativa de sempre se adequar à opinião dos outros para não ser menosprezada, acaba não reconhecendo suas reais características.

Elevar a auto-estima não é um processo fácil ou rápido. Mas como o ser humano está sempre em transformação, é possível melhorar a cada dia. Porém, isso não acontece se a pessoa viver em meio a incertezas, executando apenas o que já sabe ou o que lhe é mais agradável.

Segundo especialistas, elevar a auto-estima é um desafio que exige do indivíduo respeitar suas sensações e valorizar suas intuições. É o resultado de um exercício diário baseado nestes pontos:

> viver conscientemente, aceitar-se, ter responsabilidade, ser assertivo, seguir propósitos e manter a integridade.

Com auto-estima elevada, a pessoa não busca tanto a aprovação dos outros, adquire mais confiança em suas escolhas e melhora a relação com os demais, harmoniza o que sente com o que diz ou faz, cuida melhor de si, encontra satisfação pessoal nos projetos e paz interior. Mas, é bom destacar: isso não significa se tornar arrogante ou egoísta.

Para não cair nessa armadilha (auto estima baixa), é importante, a cada momento, reconhecer e valorizar o próprio potencial, e também o dos outros, como ser humano.

No Budismo de Nitiren Daishonin, esse potencial nada mais é que o estado de Buda, inerente em todas as pessoas.

Certamente, um precisa do outro para se desenvolver. Por isso, ter auto-estima não significa ser egoísta ou deixar de ser o que é para agradar alguém.
É importante cada um preservar suas próprias características, pois é isso que torna o ser humano único e insubstituível.
TC 464 - fev/08